O amor é o meu pecado.

Não posso começar de outra forma senão pedir-vos desculpa.

Deram-me a melhor educação do mundo, disso ninguém pode questionar. Eu é que estraguei tudo, eu é que escolhi apaixonar-me por alguém que não devia, e agora virei um alvo a abater.

Não imaginam quantas vezes planeei a minha morte por ter todos os miúdos da escola a gozar comigo. Não eram os apelidos como flor, gay, paneleiro que me incomodavam. Era tratarem-me como se fosse uma aberração, como se a culpa de eu ser diferente fosse vossa. Como se amar alguém fosse um crime.

Desculpem lá se os termos usados vos chocam.

Ainda me lembro da vossa reação quando assumi ser homossexual. A mãe chorou durante dias, e o pai deixou de me abraçar, passou a tratar-me como se eu tivesse uma doença contagiosa. E não é isso mesmo que eu tenho? Uma doença?

O bullying da adolescência passou. Hoje vivo num mundo bem pior, um mundo onde as pessoas matam umas às outras sem qualquer motivo, onde uma discussão é sinónimo de uma facada, onde os homossexuais são alvos a abater, aberrações que precisam ser extintas da humanidade, isto para aqueles que ainda nos consideram humanos.

Não me assusta mais os olhares dos nossos vizinhos, os comentários maldosos dos mal amados. Assusta-me saber que temos o mundo disposto aos atos mais cruéis só para impor as suas ideologias que julgam ser as corretas.

E ainda dizem que as aberrações somos nós.

Um dia destes serei eu, um dia destes receberão uma notícia a dizer que morri, provavelmente por nada mais que um simples ato homofóbico. Será um alívio, menos um a estragar este fantástico mundo em que vivemos, e de besta passarei a bestial, acreditem, após a minha morte todos irão lamentar e dizer que era boa pessoa, mas agora, agora que estou aqui, é bem mais fácil criticar, julgar.
Deixei de ser o bom aluno da escola, o melhor cantor do coro da igreja, e passei a ser o garoto perdido da aldeia.

Desculpem, vocês não criaram uma aberração, fui eu que decidi ser assim no dia em que escolhi ser feliz.

Quando eu morrer, não sei se amanhã ou daqui a 50 anos, saibam que morri feliz, realizado, porque amei e fui amado. Lamento por aqueles que são aceites na sociedade e não sabem o que é o amor.
Desculpem, pai, mãe, desculpem por ter escolhido ser feliz.


O vosso filho homossexual.

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