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A mostrar mensagens de abril, 2017

A culpa não foi dele por não me conseguir resistir, foi minha porque o provoquei. Lamento.

Queridos pais, Se estão a ler esta carta, então saberão para onde foram todos os comprimidos que desapareceram da mala da mãe. Passaram cinco anos e eu sinto cada vez mais nojo de mim mesma. Não consigo adormecer sem que aquele homem apareça nos meus pesadelos. Por mais que tente, não consigo deixar de sentir o cheiro dele, o respirar no meu pescoço, o toque por todo o meu corpo. Fecho os olhos e sinto as suas mãos a apertarem-me o pescoço. E eu choro, grito por ajuda, e ele sorri. Quanto mais grito, maior é o prazer para ele. Consigo vê-lo no seu olhar. As suas mãos continuam em volta do meu pescoço, sinto cada um dos seus dedos nas minhas veias, apertando cada vez com mais força. Sinto-me a sufocar. Por momentos penso que vou morrer, e agrada-me tanto a ideia só para deixar de sentir o suor dele cair sobre a minha pele. Quanto mais tento sair debaixo dele, mais ele me agarra. E eu desisto. Perdoem-me, pai, mãe, perdoem-me por eu ter desistido, mas as forças começaram a d

Desapego.

Deixar para trás tudo aquilo que não nos leva para a frente. Quem nunca ouviu essa expressão? Os pormenores podem diferenciar, mas os motivos, esses são os mesmos. Cansaço, desilusões, falta de interesse em se interessar pelos outros. Como foi que nos perdemos tanto? Quando as mágoas se sobrepõem às alegrias, começamos a construir uma barreira de indiferença à nossa volta. Dizemos que não nos incomoda, não nos afecta, usamos expressões como "é sempre roda no ar" ou "a fila anda". E a grande questão é que isso se torna verdade.  Cada pessoa que cruza o nosso caminho traz consigo uma lufada de expectativas. Expectativas geram desilusões, e quando damos por nós, inevitavelmente estamos a recomeçar tudo de novo. É um ciclo vicioso do qual queremos sair, e para isso refugiamo-nos nas noitadas com os amigos, nas cervejas e nos encontros de sábado à noite com alguém que não nos damos ao trabalho de decorar o nome porque no dia seguinte não vamos lembrar mais dela

Um milhão de motivos.

Deixei de contar o tempo que passou desde a última vez que te vi. Confesso que perdi todo o entusiasmo em planear a minha semana para estar contigo, porque sabia que tu não irias poder. Nunca podias. O teu tempo era demasiado ocupado para me incluir nele. E eu entendi isso. Um, sozinho, não ama por dois, devias saber. Aceitei todas as tuas desculpas, fingi que não me incomodava todas as vezes que me deixavas a falar sozinha, enganei a mim mesma porque queria acreditar que desta vez seria diferente. Porque soube desde o primeiro dia qual era o meu lugar, mas acho que, assim como qualquer pessoa com o mínimo de esperança, não queria aceitar o facto de não estar na tua lista de prioridades, nem lá perto sequer. Às vezes questiono-me se alguma vez tiveste um pequeno interesse em me incluir na tua vida. Quando dei por mim, inconscientemente, deixei de visitar os teus perfis nas redes sociais, deixei de procurar saber de ti, saber como andava a tua vida, se estavas com alguém ou não.

Silêncio.

O silêncio é o maior grito que existe na ausência de palavras. Tu sabes quando estás a mais, tu sabes quando do outro lado o encanto se perdeu, quando o interesse deixou de ser mútuo. Tu consegues perceber quando és a única a lutar por uma coisa em que apenas tu acreditas. Tu sabes, mas preferes ignorar. Preferes fingir que não entendes, que está tudo bem, preferes continuar a insistir numa história que provavelmente não passa de uma ilusão na tua cabeça. Deixas o orgulho de lado e continuas a imaginar a tua vida ao lado de uma pessoa que a esta hora está do lado de outra que não tu. E tu sabes disso. Mas preferes ignorar. Até quando? Até onde alguém vale a pena o suficiente para te humilhares dessa maneira? Já pensaste que todas as vezes que lhe mandas mensagem a dizer que sentes a falta dele, o facto de demorar a chegar uma resposta é por ele estar com outra? Ou por não sentir o mesmo que tu? Queres muito acreditar que todas as juras de amor que te fez não foram em vão, que ta

Nunca te esquecerei, mesmo que um dia a senilidade me obrigue a tal.

Estamos em pleno inverno, faz um frio insuportável lá fora. O alpendre está coberto de neve, e a tua cadeira de baloiço continua no mesmo sítio, vazia, mas tão cheia de memórias.  A falta que me fazes.  Querida Maria, Esta é apenas mais uma das muitas cartas que te escrevo diariamente a contar como foi o meu dia.  Hoje foi um dia de imensas tarefas. Limpei a casa, fui ao supermercado, cortei o cabelo e passei o resto do dia a resolver as palavras cruzadas do jornal. Uma das perguntas era qual a palavra que designava o sentimento de quando se perdia alguém. Saudade, vazio, dor, solidão. Não me consegui decidir de qual se adequaria melhor. Desculpa, meu amor, por ser tão repetitivo, mas a dor da tua ausência é tão avassaladora. O que outrora era "mais um dia" agora é "menos um dia", menos um dia na contagem decrescente para me voltar a reencontrar contigo.  Nunca entendi porque as pessoas perdem o gosto pela vida sabes? A minha vida a teu lado era tão per