Fui uma mulher desejada, mas nunca amada.

Que atire a primeira pedra a mulher que nunca, nem por um segundo na sua vida, se sentiu com problemas de auto-estima.

Ser mulher não é fácil. É-nos colocada uma enorme responsabilidade sobre as costas, somos obrigadas a ser perfeitas sem o sermos. E quando o conseguimos, aparece alguém com algo a apontar, criticar. 
Nunca seremos suficientemente boas, essa é a verdade.

A cada ano que passa os parâmetros de beleza impostos pela sociedade tornam-se cada vez mais exigentes, o nosso espaço para falhas é cada vez menor. 
Somos mulheres, não bonecas, entendam isso!

Mas, quem somos nós, mulheres com celulite, estrias, peitos descaídos, perante mulheres/bonecas com um monte de silicone pelo corpo todo? Como podemos competir com miúdas dez anos mais novas que se maquilham e vestem de forma a parecer mais velhas? Como podemos ser amadas por homens que se deixam levar pelas hormonas?

Não me posso queixar muito. Eu sei que, apesar de todos os meus pequenos defeitos, apesar das minhas imperfeições, sempre fui uma mulher desejada. Há uma altura na nossa vida em que esse é o nosso maior objetivo, sentir que somos desejadas pelos homens, talvez porque assim sabemos que estamos à altura das exigências que nos colocam. Mas isso passa, essa fase acaba, ser desejada deixa de ser uma prioridade. 
Desejada mas nunca amada, a frase da minha vida.

É fácil gostar de alguém quando tudo é perfeito, quando não causamos dores de cabeça, quando satisfazemos as necessidades do outro. É fácil amar alguém que é exactamente aquilo que queremos que seja. Mas quando isso muda, quando as falhas surgem, quando o mundo da Barbie e do Ken deixa de ser real, quando aparece alguém melhor que nós, ou pelo menos alguém que é novidade, que provoca mistério, curiosidade em conhecer, quando o encanto acaba, passamos a segundo plano, ou nem isso, deixamos simplesmente de ter lugar na vida daquela pessoa.

Perdi a conta das vezes que ouvi algum homem dizer que me amava. Confesso que algumas vezes me deixei iludir, deixei-me envolver pela ideia de que poderia ser verdade. Mas nunca foi, como podia?
Ao fim de quarenta anos, ainda não conheci nenhum que viesse para ficar. 
Coitados daqueles que acham que meia dúzia de palavras bonitas e juras de amor eterno querem dizer alguma coisa.

Invejo aqueles casais que se encontram em algum momento das suas vidas, por destino ou acaso, e que permanecem juntos, que passam por mil e um problemas e mesmo assim se mantêm ao lado um do outro, que não deixam que a erosão do tempo destrua aquilo que com tanto amor, carinho, cumplicidade criaram. Que quando se despem na frente um do outro, não sentem  vergonha do seu corpo deformado, das gorduras acumuladas dos imensos fritos que comem às refeições, que não se sentem ameaçados pela geração obcecada em ser perfeita.

Como é bom ter alguém que nos ame. 
Eu não sei o que isso é, mas imagino que deva ser fantástico.

Talvez ainda venha a descobrir, ou talvez morra sem nunca saber o que é ter alguém que me ame nos dias em que acordo cheia de olheiras, com o cabelo todo despenteado, alguém que me deseje quando mais ninguém o faz. Seja como for, sei que vivi e morrerei tal como sou, uma mulher, não uma boneca manipulada pelos caprichos da sociedade.

Não fui amada, mas fui real, sou real.

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