Para todo o final, um novo começo.

São incontáveis as tardes de domingo que passamos à beira mar. Adorava a forma como o teu cabelo ficava todo despenteado do vento, a forma como tentavas olhar para as outras miúdas sem que eu percebesse. Fingia que não percebia, mas questionava sempre "que idiota, porque me haveria de sentir insegura?".
Estavas comigo, não com elas. Isso devia dizer muita coisa. Certo?

Errado. 

Ainda me lembro de quando fui jantar a tua casa a primeira vez. Fizeste questão de me preparar para a responsabilidade que ia ter. Conhecer os teus pais era importante, era quase como se no momento em que passasse aquela porta, estivesse a afirmar "calma, eu daqui a pouco vou para casa, mas volto, sempre vou voltar".
Eu realmente tencionava fazer isso, juro.

Odeio pessoas que amam apenas partes. 

Chovia demasiado naquele dia em que, tarde da noite, afirmaste que numa decisão futura que nem tinha ainda sido tomada, te iria desiludir, trair. Provavelmente essa foi a primeira vez em que uma parte do meu amor por ti teve um ponto final.
Como confiar em alguém que não confia em mim?

Amor sem confiança é um amor pobre. 

Começamos a pintar uma bela moldura, como dizias. Pelo menos eu acho que sim. Nunca tive grande jeito para as artes sabes, mas sempre me dediquei a dar o meu melhor nos desafios que me foram colocados.
Ao contrário de algumas pessoas que preferem tudo certo e demasiado óbvio, eu até gosto do abstrato, mas a nossa pintura ficou demasiado confusa. Não sei se o problema foi na escolha dos materiais, mas as tintas foram todas entornadas de uma vez só, e agora não há espaço para mais desenhos.

Não existe mais espaço.

Tudo foi colocado cuidadosamente numa caixa que guardei num sítio que fiz questão de esquecer. Os supermercados deixaram de fazer promoções nos lenços, e a balança começou a marcar uns quilos a mais do que é normal.
Já viste o quanto é mau, para além de deprimida, ficar gorda e com olheiras?

Deprimida já era mau demais. Era.

Não sei se ainda mantens contacto com a morena-mulher-mais-que-tudo-na-tua-vida, sinceramente prefiro nem saber. Não quero nem saber se a tua próxima namorada é loira, morena, ruiva, gorda, magra, se lhe vais dizer o mesmo que disseste a mim, se a vais fazer sentir tão sortuda por entrar na tua vida como eu achava que era. Não quero saber, porque é a tua vida, só a ti diz respeito, e seja ela quem for, não serei eu.

Disso eu tenho certeza. 

Quero que saibas que não te guardo rancor, não te odeio, mas também não te desejo mais. Copo quebrado não dá para reconstruir. Por maior que seja a habilidade, sempre faltará um pedaço de vidro, uma lasca que seja. E ninguém se quer cortar a segunda vez. Comprar um copo novo é mais seguro.

Para todo o final, existe um novo começo. 

Talvez amanhã me vejas com o rapaz que vende jornais, ou com aquele que me leva café todos os dias de manhã no trabalho. Talvez conheça um rapaz que me queira levar a conhecer a família dele, e talvez, desta vez, seja alguém que não me faça ir embora. Ou talvez seja apenas mais uma versão de ti.
Não importa quando, onde, ou com quem. O importante é procurar ser feliz.
E hoje é tempo de recomeçar.