Amar-te é tão fácil como andar de bicicleta.


Somos o oposto um do outro.
Por muito que pense não encontro nada em que sejamos compatíveis. Mas eu iludi-me disso. Durante anos disse a mim mesma que tinhamos sido feitos um para o outro.
Os opostos atraem-se, não é o que dizem?

Tens todos os hábitos que mais odeio numa pessoa. Desculpa ser tão direta, mas não consigo mais ser hipócrita.
Eu sei que quando te conheci já eras assim. E nunca gostei desses teus vícios do tabaco, nunca gostei que passasses mais tempo no futebol do que comigo, que fosses para a noite até de madrugada com os teus amigos, nunca gostei que fosses tão racista, homofóbico. Mas mesmo assim não vi nisso um problema. Gostava tanto de ti que estava disposta a fazer um esforço para não ligar a isso. E assim foi.

Durante todos estes anos evitei falar contigo sobre os assuntos que eu sabia que não ias entender, mantive-me ocupada enquanto ias ao futebol ou sair com os teus amigos para não criar nisso um problema. Fiz tudo para que não houvessem discussões desnecessárias, para que fizéssemos a nossa relação resultar. Acompanhei-te em idas à praia, a discotecas. Eu não gostava de nada disso, mas fui, porque sabia que tu gostavas.

Acho que me sujeitei a tudo isso com a esperança que fizesses algo para mudar um pouco também. Mas não, não mudaste nada em ti, na tua rotina, nada. Nunca foste capaz de me levar ao teatro, provavelmente nem sabes que eu gosto. Nunca foste capaz de ficar um fim de semana em casa, comigo. Era tão chato, dizias tu.

Os jantares passaram a ser em silêncio, não havia nada para falar. Quando dei por mim dormia ao meu lado um conhecido desconhecido, alguém que prometi amar até ao fim da minha vida, mas que não conhecia.

E eu tentei.
No dia em que prometi aceitar tudo em ti, disse que o faria porque amar-te era tão fácil como andar de bicicleta.

Eu só não sabia que não sei andar de bicicleta.

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