chuva.

Abro a janela.
Fecho a janela. 
Abro novamente. 
Observo as nossas fotografias. 
Quando foi que te tornaste tão errôneo? 


De mãos dadas passeamos pela rua.
Sorrisos genuínos e olhares apaixonados, dizem eles
Tu dizes que me amas, e eu sorrio.

Fazemos planos, partilhamos viagens e sonhos. 
Companheiros nas festas de família, e na vida. 

Digo aos quatros ventos que encontrei o amor no meu melhor amigo.
O teu cuidado, carinho e preocupação são a minha maior segurança. 
Não importa a distância que a rotina nos imponha, eu sei que serás fiel.

Enalteço-te na esperança que os outros te vejam como eu. 
Que saibam o quanto és especial. O quanto me fazes sentir especial. 
Que sortuda que eu sou. 

Olho pela janela. 
A chuva cai debilmente, molhando as nossas fotografias. 
Vejo o teu rosto esbelto, sorrindo do meu lado, e questiono-me, para onde foi todo aquele amor?

Dizes da forma mais cobarde que não me amas. 
Que nunca amaste.
Pediria que me olhasses nos olhos, e me dissesses isso. 
Mas tu não serias capaz de ser tão honesto.

Se os olhos nunca mentem, os teus mentiram demasiado bem. 

Hoje aprendi a deixar de gostar tanto de ti. 
Amanhã, espero deixar mais um pouco.
E, quem sabe, um dia te deixarei de amar. 

Coloco as fotografias do lado de fora da janela.
Observo o teu rosto a desvanecer com as gotas da chuva, agora mais intensas. 
Vejo-te desaparecer, de forma lenta e dolorosa. 
Fecho a janela.

Comentários

  1. Wow, nunca tinha lido algo tao subtil e ao mesmo tempo intenso como este texto. A forma que enquanto lia e o texto se tornava mais real pela junção de todas as palavras e da forma em que estavam escritas. Parabéns, fiquei fã.

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  2. Demasiadas vezes tenta-se trazer razão aos destroços deixados por alguém e o resultado é emburrecer. Procurar respostas que nem são importantes saber que só vão alimentar o próximo nível de ansiedade preso num ciclo de dor cada vez mais difícil de parar. E com os meus 25 anos vou tendo respostas que me parecem tão verdade, fazem-me acreditar que podemos estar a achar que alguém é garantido e com uma simples atração sexual por alguém novo deixa de parte o que foi vivido com amor. Senti os dois lados da traição, assim como já abandonei e já fui abandonado. Até mesmo o lado vantajoso de trair ou deixar alguém, com o tempo causa desconforto, senti-me uma pessoa de merda, egoísta e de nível demasiado baixo. Abandonar é mais suave e aceitável, acontece querer deixar de aturar com quem estamos há muito. Por outro lado, também é estranho sentir que falhei na escolha da pessoa certa. Daí só ter namorado 2 vezes (as vezes em cachopo não contam). Esta experiência de 25 anos faz-me crer que a atração sexual ganha sempre. Podemos estar com quem nos dê conforto, segurança, estabilidade, amor... E uma simples atração sexual ao ponto de nos vidrar em conhecer e conquistar alguém novo, fica difícil em não ceder. Nem que dure uma semana. Após essa atração estar satisfeita voltam as questões de "o quê que ganho em estar com esta pessoa?"
    Emburrecer à procura de respostas para quê?
    Não passaram de reações químicas nos nossos cérebros que nos fizeram ignorar as noções mais humanas.

    The Herbaliser - Sensual Woman - https://youtu.be/E7rwRqnkymw

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