O corpo vai, a saudade fica.



No dia em que me deitei naquele sofá, com a cabeça no peito dele, assistindo Brooklyn Nine-Nine 
- eu nem gostava da série, mas esperava a semana toda para ver os próximos episódios, 
porque sabia que o faria com ele - 
pensei, naturalmente, "caramba, é isto que eu quero para mim, é ele".
O amor era tão intenso que chegava a doer, a dar medo. 
Medo de perder, medo de ficar por ali.
E ficou.

Naquele dia, eu soube que tinha conhecido o ponto máximo de amar alguém. 
E hoje, hoje sei que não me enganei. 
Continua a ser ele.


Se não deu certo, talvez seja melhor que assim fique. 
Arrumamos as malas, esvaziamos as gavetas, e entregamos a chave. Guardamos os sentimentos dentro de uma caixa e fingimos que não existem mais. Fingimos que superamos, que não existe mais amor, nem esperança que nos voltemos a cruzar. Fingimos que estamos felizes, e seguimos caminhos separados, sem nunca olhar para trás. 

Carregamos a lembrança do perfume, do toque dos lábios, e do amor que deixamos escapar, com a certeza de que nunca mais sentiremos tudo aquilo por outra pessoa. Mas vamos, porque escolhemos desistir e o orgulho não nos permite voltar atrás. 

O corpo vai, e a saudade fica. 

Saudade do abraço, dos carinhos e dos sorrisos. Saudade do cafuné, das mensagens de bom dia e das conversas pela noite dentro. Fica a saudade, acompanhada pelo vazio da cama, a camisa sem cheiro, e o silêncio ensurdecedor. Fica tudo, menos nós.

De tanto fingirmos que esquecemos, que está tudo bem, talvez um dia fique. Talvez um dia não lembremos mais daquela caixa, e de tudo o que guardamos nela. Talvez um dia sejamos tão felizes ao ponto de não lembrar mais um do outro. Talvez um dia amemos um outro alguém com tanta intensidade, que o nosso amor vire uma pequena lembrança. 
Ou talvez, apenas talvez, ele nunca desvaneça.

Pior do que um amor que se perde, é um amor que se vai perdendo, lentamente, acompanhado da sensação de abandono e desistência. Desistência do que um dia fomos, e do que podíamos ter sido. 

Porque desistimos de nós?

Fomos embora porque não soubemos como fazer funcionar. 
Porque ir é mais fácil que ficar. Abdicar é mais fácil que mudar. 
E talvez a vida seja isso. Talvez estejamos demasiado ocupados com outros planos, ou o amor não seja suficiente.

Nem todos ficam com o amor da sua vida. 
Alguns nunca o encontram. 
E está tudo bem. 
O mundo é assim mesmo, repleto de encontros e desencontros, amores e desamores. 
Apazigua-me a alma saber que fui afortunada com o privilégio de conhecer esta sensação tão bonita e ao mesmo tempo assustadora de amar alguém da forma mais intensa e natural.
Mesmo que tenha ficado por ali. 

Perdoa-me por ter aberto a nossa caixa sem te avisar, mas à noite a tua ausência é ainda maior, e tem dias que não dá para fingir que ela não existe.
Hoje é fim de semana.
O chá está pronto, e a manta à minha espera para ver mais um episódio. 
Agora sem ti, sem o teu conforto. 
Mas com a memória do teu riso. 

Que nos reencontremos outra vez.

Comentários

  1. Acho interessante a perspetiva dos laços emocionais entre pessoas, a forma como é sempre diferente descrita e sempre com o mesmo foco na saudade, na ansiedade, no futuro, na distância, deixando para trás o que é bom. O motivo será porque o que é bom é vivido só para nós e para nossa companhia? Porquê que é difícil encontrar artigos onde a descrição faça as pessoas acreditar no Amor? É por sermos mais recetivos ao conflito e ao desconforto, e por isso, preferimos histórias infelizes? É mais fácil fazer o leitor chorar com tristeza em vez de felicidade?
    Até eu fico tentado em ressaltar os pontos mais negativos, de certeza que é quando alguma coisa nos corre mal e como pensar não chega, acrescentamos a escrita para estruturar a confusão destes pensamentos angustiantes. Ao partilhar experiências deste tipo ajuda-nos a ter uma ideia de fora com potencial para ser aplicada na nossa vida, a parte mais negra e deprimente fica à tona e a cor-de-rosa mal é falada. Nem quero acreditar que ninguém lê para não cair na inveja.
    Essa inveja é um sensor biológico que nos diz que queremos isso! Faz-nos sentir infelizes naquele instante ao mesmo tempo que nos dá uma certeza que queremos arriscar até conseguirmos!

    Lissie - Pursuit of Happiness (live cover): https://www.youtube.com/watch?v=PQMJCOT2wlQ

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Fui uma mulher desejada, mas nunca amada.

Eles sabem lá.

Não te percas por ninguém.