Desapego.

Deixar para trás tudo aquilo que não nos leva para a frente. Quem nunca ouviu essa expressão?
Os pormenores podem diferenciar, mas os motivos, esses são os mesmos.
Cansaço, desilusões, falta de interesse em se interessar pelos outros. Como foi que nos perdemos tanto?

Quando as mágoas se sobrepõem às alegrias, começamos a construir uma barreira de indiferença à nossa volta. Dizemos que não nos incomoda, não nos afecta, usamos expressões como "é sempre roda no ar" ou "a fila anda". E a grande questão é que isso se torna verdade. 
Cada pessoa que cruza o nosso caminho traz consigo uma lufada de expectativas. Expectativas geram desilusões, e quando damos por nós, inevitavelmente estamos a recomeçar tudo de novo. É um ciclo vicioso do qual queremos sair, e para isso refugiamo-nos nas noitadas com os amigos, nas cervejas e nos encontros de sábado à noite com alguém que não nos damos ao trabalho de decorar o nome porque no dia seguinte não vamos lembrar mais dela.

Estamos na geração do desapego. E cada vez mais sozinhos.

Acabaram-se os dramas, as discussões, já ninguém corre atrás de ninguém. Mas, bem, talvez isso se deva a uma luta pelo primeiro lugar no ranking de países com maior índice de obesidade. Seja como for. As pessoas desistem antes de pensarem sequer em tentar, desvalorizam tudo e todos, até a si mesmos. Mas porquê tanta preocupação? Afinal, somos a geração de eternos solteirões que não precisam de ninguém, que repugnam os sentimentos. E estamos de bem com isso. 
Ninguém se importa, ninguém quer saber. Até um dia. Até ao dia em que tudo isso acaba por se tornar realidade, até o dia em que conhecemos alguém pronto a colocar os pontos nos is, alguém que vem determinado em quebrar toda esta indiferença onde nos refugiamos, alguém que, ao contrário daquele idiota que nos encheu de promessas e juras de amor eterno e subitamente desapareceu, sabe o que quer. 

E tudo parece perfeito, podia ser o início de uma grande história de amor. Até que percebemos que agora, agora somos aquela pessoa com quem evitamos conviver. Assistimos levarem partes de nós que julgamos não fazerem falta, e sem darmos conta, olhamos no espelho e não nos reconhecemos mais. É nesse momento que percebemos que estamos perdidos, vazios, e com medo, com imenso medo de aceitar o amor que durante tanto tempo fizemos questão de rejeitar. De tanto nos querermos proteger dos outros, acabamos por nos tornar a pessoa errada que ninguém quer por perto. Nem nós nos iríamos querer.

Então fazemos o que de melhor aprendemos, e fugimos, deixamos para lá e continuamos a viver, sozinhos. Não porque somos cobardes, mas porque não queremos destruir alguém que acredita naquilo em que perdemos a esperança. E no fundo sabemos que era isso que iria acontecer.

Representamos a geração do desapego e com ela a destruição do amor. 
Lamento. 

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