De uma mãe para um filho


Querido filho,

Após várias reflexões, hoje decidi escrever-te esta carta. 
Não te assustes, sei que estás mais habituado a receber mensagens, snaps ou lá como se chama isso, mas as cartas não ferem ninguém, confia em mim.

Faz tempo que ando para ter esta conversa contigo mas é tão difícil o diálogo entre nós. Estás sempre ocupado, e quando falo para ti sei que não me ouves, com tantas mensagens dos teus amigos, porque haverias de perder tempo com as conversas da tua velha mãe?

Admiro imenso a forma como desde pequeno sempre quiseste ser tão independente mesmo dependendo de mim para tudo. Quando entraste na adolescência achavas-te tão senhor do teu nariz, querias ser adulto cedo, e agora aqui estamos, dois adultos a ter uma conversa à moda antiga. Nem parece que vivemos na mesma casa.

Tenho imenso orgulho em ti, na pessoa que és, mas entristece-me, entristece-me tremendamente a capacidade com que desperdiças o melhor da vida com futilidades.

Não entendo como tu e os outros miúdos da tua idade (para mim serás sempre um miúdo) são capazes de passar horas nas redes sociais a informar os seus seguidores daquilo que estão a fazer ou a pensar, a enviar centenas de mensagens diárias para os amigos a dizer um monte de disparates, ou a tirar fotos com aquelas aplicações engraçadas. Porque ficam horas fechados em casa em frente a um computador ou telemóvel quando podiam estar sentados numa esplanada ao ar livre, a conversar uns com os outros?

E a tua namorada? Faz dois anos que estão juntos, sempre que ela vem cá a casa ficam agarrados ao telemóvel a tirar fotos, quando ela vai embora, ligam para falar um com o outro. Será que vocês estão tão robotizados assim que não conseguem comunicar pessoalmente uns com os outros? Nem os famosos expõem tanto a vida deles como vocês o fazem, e porquê? Para quê? É preciso a aprovação dos outros para a vossa vida fazer sentido? 

Fico tão triste por ti, meu filho.

Lembras quando no mês passado publicaste aquela foto que tiramos os dois a desejar-me os parabéns? Soube da existência dessa tua publicação porque a vizinha me disse. Até pensei que te tivesses esquecido do meu aniversário, nesse dia nem a casa vieste dormir. Diz-me, qual é o fundamento de me dares os parabéns numa rede social que sabes que não tenho acesso quando nem um beijo me deste pessoalmente? Seria para os teus seguidores saberem que tens uma mãe?

Esta geração em que te encontras está tão focada em manter uma vida social ativa que quando derem conta, acontece o mesmo de quando andam a apanhar pokémons, chegam a lugares não sabem como, à procura não sabem do quê, e sozinhos, com a sua vida virtual no topo, mas sempre sozinhos. Haverá algo mais triste do que isso?

Não te quero assustar, mas um dia tudo vai mudar.
Um dia irás construir família, e quando isso acontecer, quando tiveres filhos, vais lembrar de mim. Vais saber que o aborrecimento que te causo sempre que sais por pedir que, uma das imensas mensagens que mandas por dia seja para mim, a dizer que chegaste bem, afinal é só preocupação, vais saber o que é ficar com o coração nas mãos cada vez que te ligo e tu não atendes, ou quando dormes fora de casa sem avisar. 

Talvez agora não consigas entender, mas o meu amor por ti é um amor que não terás de mais ninguém. Mesmo que consigas encontrar uma mulher que goste de ti tanto ou mais do que gosta dela própria, o que hoje em dia é bastante difícil, ela nunca te amará como eu, nunca estará disposta a dar a sua vida por ti, como eu. 

Não penses que com isto te quero cobrar alguma coisa. Fazer-te perder uns minutos do teu precioso tempo a ler estas minhas palavras já deve ser mais do que tenho direito. Contudo, quero que saibas que te amo, que és a melhor pessoa que tenho na minha vida, e que sempre que precisares estarei aqui para ti. Mas, se for demasiado tarde quando perceberes que a vida passa enquanto olhas para o telemóvel, se nessa altura me ligares e não te puder atender, não chores, nem coloques textos de saudade no Facebook. Eu não irei voltar, o tempo que escolheste desperdiçar não voltará.
Quando não se ama em vida, não se ama depois da morte. 


Com amor, a tua mãe que te ama. 


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