À amante do meu marido

Quando leres estas palavras é porque certamente estarás a desfazer as malas dele, convencida que é o melhor dia da tua vida por finalmente ele estar contigo.
Até nisso serás uma submissa.

Mal sabia da tua existência e já tu sabias tão bem de mim.

Diz-me, qual é a sensação de partilhar a vida com uma pessoa que nos esconde do mundo? Alguém que é capaz de enganar toda a família, que só te procura quando quer diversão? Que te trata pior que um objeto sexual? 

Quando desconfiei da tua existência, mesmo sem saber quem tu eras, senti-me ameaçada por ti. Passei infindáveis dias a tentar perceber o porquê de ele chegar tão tarde a casa, mas quando as camisas começaram a chegar constantemente com cheiro de mulher, quando os teus brincos ficavam espalhados pelo nosso carro, só não via quem não queria.

No início preferi ignorar. É tão difícil de entender o porquê de termos deixado de ser suficientes. Seriam as minhas marcas da gravidez que deixaram de lhe agradar? Ou estaria eu a ser uma má esposa? Será que estava demasiado "velha"? Ou teria simplesmente perdido a piada?

Se fingisse que nada sabia, mantinha o meu casamento, os miúdos não teriam de sofrer com o processo de divórcio, eu não seria alvo de comentários das beatas da terra. Ele já mal parava em casa, qual seria a diferença? Quantos não são os casais que se mantém juntos só por aparência? 

No fundo acho que tinha uma pequena esperança de que tu fosses uma pequena fase ilusória. Se ele te mantinha em segredo é porque não fazia intenções que fosses mais que a amante.  
Achar que aguentaria um casamento de fachada foi a segunda maior estupidez da minha vida.

Hoje deixei-o livre para ti. Eu sei que não será isso que ele te vai contar, mas desengana-te se achas que ele ficará contigo por livre vontade. Não te julgues tão importante assim. Mais uma vez, só o estarás a consolar.

Não imaginas o quanto eu te odiei, odiei-te com todas as minhas forças. E naquele dia em que te sentaste bem na minha frente no teatro, a minha vontade era de te arrancar uns quantos cabelos (bem oleosos que estavam).

Em toda a minha existência nunca desgostei tanto de alguém como de ti. Mas também nunca tinha tido ninguém a meter-se debaixo do meu marido como tu fizeste, pelo menos que eu soubesse.

Eu sei que ele não é nenhum santo, o que dois não querem um não faz. E cada vez mais acho que vocês se merecem. Dois egocêntricos à procura de consolo por serem demasiado vazios. Queres melhor?

A questão é que hoje não te odeio mais. 

Quando nos voltarmos a cruzar, e acredita que não rezo para que isso aconteça, não irei mais sentir vontade de sujar as minhas mãos contigo, não vou sentir raiva, ódio. Provavelmente ainda te irei sorrir, por seres uma pessoa tão desprezível, por teres esse ar de tão superior e na verdade seres tão sozinha porque ninguém aguenta tanta sujidade. E já nem me refiro ao teu cabelo.

Hoje sinto pena de ti, por achares que és importante para ele, por estares todo este tempo à espera que ele me deixasse para ficar contigo. É verdade que provavelmente ele irá viver contigo, mas não foi por assim o querer, mas sim por não ter outro sítio onde ir.

Espero que estejas preparada para passar o dia a lavar a roupa suja dele, para passares noites sozinha, acreditando nas desculpas que te dará para chegar tarde. Não te esqueças que tudo aquilo que ele fez comigo fará contigo. Não és tão diferente como pensas.

Felizmente consegui perceber que teres cruzado os nossos caminhos foi o melhor que podia ter acontecido. Quão infeliz não seria eu por acreditar que tinha o casamento perfeito? 

Não vos vou desejar felicidades, não esperes isso de mim. Não te odeio, não mais, mas também não tenciono ser tua amiga. Desejo apenas que tenham tudo aquilo que fazem por merecer. O resto fica ao encargo do Karma.
E espero, de coração, que o consigas prender a ti. Só faz cinco horas que lhe pedi o divórcio e já chateia receber tantos ramos de flores a pedir perdão.



Com todo o amor, 

 A mulher do homem que tu consolas. 


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