S de saudade.


Tudo em mim é saudade. 
Não encontro nenhuma outra palavra que me defina tão bem quanto essa. 
Saudade.

Hoje cheguei à conclusão que preciso mudar as músicas da minha playlist. Na verdade, não foi a primeira vez que cheguei a essa conclusão, mas por algum motivo nunca o faço. Apagar músicas é como arruinar o estímulo das nossas memórias. E por mais dolorosas que possam ser, são parte da nossa história, da nossa vida. E se naquele momento fomos felizes, porquê apagar isso?

Quando somos obrigados a desistir dos nossos planos, ou quando eles desistem de nós, não existe outra sensação além do fracasso. É como se estivessem a levar partes de nós enquanto nos limitamos a observar, e aceitar. São perdas que não podemos recuperar. E é demasiado injusto que tomem decisões por nós, que nos excluam dos seus planos tão fácil como quando deitam um par de meias ao lixo. Na verdade, acho que ter de excluir as meias da gaveta deva ser mais doloroso. Levam tudo consigo, menos a saudade.
Ah, a maldita saudade!

Tenho saudades tuas, sabes?
Saudades do teu cheiro, da forma como entrelaçavas os teus dedos nos meus, do toque dos teus lábios, do teu respirar perto de mim. Tenho saudades das nossas conversas pela noite dentro, do teu olhar apaixonado sobre mim, da nossa cumplicidade. Tenho tantas saudades tuas que não cabem no meu peito. Nunca ninguém me olhou como tu, nunca ninguém me fez ser tão eu como tu fizeste. E hoje, que os nossos caminhos se desencontraram, mais uma vez, são imensas as saudades que tenho de ti, de mim, de nós.

Tentei incansavelmente odiar-te, por me teres esquecido, por me teres deixado de lado na tua vida, e por teres escolhido outra garota para o lugar que devia ser meu. Mas não consigo. Porque quem ama não pode odiar. E o meu amor por ti consegue ser maior que a minha mágoa.
Passaram 110 dias desde a última vez que nos falamos e a tua ausência arrebata a pouca lucidez que me resta. Bem, foram 111 dias na verdade, mas quem está a contar?

Fui demasiado benevolente contigo, deixei-me envolver pelo teu amor, ou pela ideia que criei dele, baixei todas as guardas, e tu não tiveste qualquer pudor em devastar-me. Mostraste-me o quanto o destino pode ser cruel, e que as pessoas que amamos são as únicas capazes de nos arruinar por completo. Por mais que tente, não consigo descrever os teus actos sem usar palavras menos agradáveis. Honestamente, sei que nem me devia preocupar com isso. Devia dizer-te tudo aquilo que sinto sem me preocupar com o impacto que isso teria em ti, tal como fizeste comigo.
Mas não, não o faço. Nunca seria capaz de te magoar propositadamente. Desde o dia em que nos conhecemos que o meu respeito por ti sempre foi o que mais preservei. E isso é algo que não pretendo mudar. Mesmo que não o mereças.

Falamos tanto de amor, temos sempre tantas opiniões e pontos de vista sobre ele, e na maioria das vezes acho que nunca sentimos a sua real intensidade. Talvez por isso nos apaixonemos e desapaixonemos tão rápido. Existe quem defenda que na vida temos dois amores, aquele que dá certo, e o que queríamos que desse certo. Por mais errado que pareça ser, ainda acredito que nos voltaremos a encontrar. Não agora, nem amanhã, nem daqui a um mês. Mas um dia, talvez um dia me cruze contigo em algum lugar, por um mero acaso, e nesse momento percebas que é possível termos esses dois tipos de amor na mesma pessoa, e que talvez essa pessoa seja eu.

Por agora resta-me despedir de ti, sem dramas, sem lamentações, sem rancor.
Apenas saudade.

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