Uma questão de não fazer mais questão.

Hoje foi dia de mudanças.

As janelas foram todas abertas, pintaram-se as paredes, mudaram-se os móveis de sítio. Já estava mais que na altura de me livrar de ti.

Não suportava mais olhar para as nossas fotografias, sentir o teu cheiro na nossa cama. Não, minha cama
Não conseguia viver mais estando tu tão presente mesmo que ausente. E ainda bem.

Não me leves a mal mas feliz do dia em que foste embora. Nunca tinha percebido o mal que tu me fazias, o quando envenenavas os meus dias, até ter sido confrontada com o silêncio da tua ausência. Pela primeira vez em muitos anos soube o que era tranquilidade, soube o que as pessoas procuram quando vão para um spá ou embarcam num retiro espiritual.

Não precisei sair de casa nem do país para saber o que isso era, bastou tu ires embora.

Confesso que me agrada imenso ter mais espaço para as minhas coisas, poder ir ao cinema, ao teatro, fazer aquilo que gosto em que tu, não só não me acompanhaste, como fizeste questão de me privar.
Sempre achei que precisava da tua companhia para tudo, mas hoje percebo que nunca precisei dela para nada.

Como é bom ser livre, viver sem discussões, não estar mais rodeada de pessoas nocivas. Como é bom ser feliz.

Lembras daquele corte de cabelo que usava quando nos conhecemos e tu disseste que me ficava mal? Voltei a usa-lo. Dizem que quando o mel é bom a abelha sempre volta, melhor evitar que queiras voltar, não vá o diabo deitar-me mau olhado.

Não há melhor sensação do que não lembrar mais de ti a cada cinco minutos, de conseguir abrir um frasco de geleia sem lembrar que era o teu doce preferido. Não há nada melhor do que te ver quando nos cruzamos na rua e não sentir mais nada por ti.

Durante muito tempo fiz questão de te agradar em tudo o que querias, de ser a esposa perfeita, aquela que todos os teus amigos elogiavam, as tuas amantes olhavam de lado, e tu passeavas como se fosse um troféu. 

Mas hoje, hoje cansei de te agradar, e percebi que na matemática, eu sou o mais e tu és o menos. Ambos sabemos que isso não gera um resultado positivo.

Tudo o que era teu foi enviado para o teu velho apartamento, onde deves morar com a morena com pernas de dois metros que te acompanhava no supermercado. Nesta casa, a minha casa, não existe mais nada teu.

Citando Caio Fernando Abreu, "às vezes, é tudo uma questão de não fazer mais questão". E eu não faço mais.
Desculpa não lamentar.

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