De repente, nos vinte.

Abrangida por uma nostalgia e uma questão existencial do ponto da vida onde me encontro: de repente nos vinte. Esperem, vinte? Como assim?

Passamos anos a imaginar como seriam as nossas vidas quando alcançássemos o ponto adulto. E agora que supostamente lá chegamos, surge a derradeira questão: seremos realmente adultos?

definição de adulto: indivíduo que passou a fase da adolescência e completou o seu crescimento. 

Não, definitivamente não somos.

Estar na casa dos vinte é estar na fase da transição, em que não somos considerados uns totais adultos, excepto para pagar bilhetes de entrada em cinemas ou parques temáticos, mas também não somos mais adolescentes. Se fizermos asneiras somos tolerados porque ainda não estamos maduros o suficiente, mas ao mesmo tempo somos criticados porque já temos idade para ter juízo. 

Como lidar com a responsabilidade e falta dela ao mesmo tempo? 

Os amigos, uns vão embora, outros chegam, outros voltam, é tudo uma grande confusão, nunca sabemos com quem contar. Deixamos de nos iludir com tanta facilidade, e quando o fazemos, as experiências até agora vividas permitem que sejam precisos apenas uns dias para perceber que não passa disso mesmo, uma ilusão. Estamos na fase em que os amores exuberantes parece que deixaram de existir, em que tudo se torna monótono e facilmente perde o encanto. Começamos a ser menos pacientes, a não dar mais valor a determinadas coisas que outrora julgamos ser o fim do mundo, ou o princípio deste.

Questionamos tudo e todos, começamos a perceber com quem nos identificamos e com quem não temos mais nada em comum. Delineamos os nossos objetivos com mais certezas do que aquelas que julgávamos ter uns anos atrás, na adolescência, fase em que nos obrigam a tomar decisões para o nosso futuro quando não nos conhecemos, quando não sabemos quase nada sobre quem somos ou quem queremos ser.  

Vemos os nossos amigos a casar, planear ter filhos, enquanto não nos conseguimos imaginar a tomar uma decisão dessas com ninguém. Sentimos uma enorme pressão para nos resolver-mos, em sermos completamente independentes, porque "na tua idade os teus pais já eram casados" e é isso que exigem de nós. 
Felizmente os tempos estão diferentes, e nem toda a gente tem esses objetivos.

Nada contra quem assim o faz, mas nesta fase é suposto aproveitarmos para viajar, para conhecer o mundo, para realizar todos os nossos sonhos, para sair, divertir-nos. É suposto abraçar com todas as forças o facto de sermos livres, de podermos viver a nossa vida do jeito que queremos, sem ter de pensar duas vezes por haver alguém que depende das nossas decisões. 

E daí se continuamos a ser os solteirões da família? Não somos mais ou menos que ninguém. Somos jovens, alguns à procura de descobrir quem são, do que querem, e outros com todas as certezas disso, mesmo sabendo que não têm bagagem para ter certezas. Fazemos parte da nova geração de pessoas independentes de terceiros, que não têm medo da mudança, de arriscar, que sabem dizer não quando assim tem de ser, que não têm medo se ficar sozinhos.

E não há melhor altura para assim o sermos senão esta.

Um dia seremos como os nossos pais, com responsabilidades acrescidas, e talvez aí seremos tratados como adultos.
Mas até lá, até lá estamos nos vinte.

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