Porque o nada em mim é tanto.



Mas, hoje, não peço nada, 
Porque um dia muito pedi,
E o muito que pedi,
O nada me trouxe. 

E o nada pode ser tanto.


Abre a janela do teu quarto, desliga o telemóvel, pega na tua chávena de chá, e senta-te no alpendre com a manta sobre as pernas. Ouve o som dos pássaros, sente o cheiro da terra molhada, permite que a brisa envolva o teu rosto. Quando foi a última vez que fizeste isso? Quando foi a última vez que ficaste sozinho, contigo mesmo?

Eu sei, é difícil. É difícil lidar com a vida, com as pessoas, estarmos sobre constante pressão, atendermos às expectativas que nos incutem sem nunca termos possibilidade de responder à questão mais importante da nossa vida: somos felizes?

Torna-se um pouco ridículo de tão irónico que é as pessoas sempre te perguntarem se estás bem, mas nunca se importando realmente com a tua resposta. Acho que na maioria, quando perguntam se estás bem, interiormente estão a rezar para que digas que sim e a conversa ficar por ali. E tu, quando percebes isso, dizes exactamente o que querem ouvir. Afinal, quem és tu para obrigar alguém a lidar com os teus dramas? Quem és tu para arrastar um outro alguém para a escuridão em que se tornou a tua vida? 

Caracterizam a adolescência como a fase problemática das nossas vidas. Daí eu questiono, seremos nós uns eternos adolescentes? Quando irá essa fase terminar? Algum dia isso irá realmente acontecer? 

Ultimamente parece que os dias viraram anos, o tempo passa demasiado depressa, e ao mesmo tempo, tão devagar. Acontecem mil e uma coisas sem que nos seja permitido respirar, a rotina absorve-nos de forma catastrófica, e quando percebemos, quando olhamos no espelho, não sabemos mais quem é a pessoa do outro lado. Quando foi que nos perdemos? 

Às vezes, só às vezes, precisamos ser um pouco egoístas. Tirar um tempo para nós mesmos, afastar algumas pessoas, reorganizar as nossas prioridades, tentar compreender os nossos sentimentos. Às vezes precisamos fazer tudo isso, pensando apenas em nós próprios. Talvez nos estejamos a tornar nas pessoas que nunca quisemos ter por perto. Talvez hoje eu seja a pessoa de quem outrora fugi. Mas hoje, quando olhei no espelho, fiz a pergunta que nunca ninguém me fez: serei eu feliz

Não é surreal, sentimo-nos tão sozinhos, mesmo que rodeados de imensas pessoas? Não é triste, aparentemente termos tudo para ser pessoas felizes, realizadas, e mesmo assim, não nos sentirmos dessa maneira? 

Perdemos demasiado tempo a tentar encontrar alguém com quem partilhar a nossa vida, e esquecemos da pessoa mais importante: nós. Como podemos amar e permitir que nos amem, se não nos amamos a nós mesmos? Como pode o amor residir em nós, se nunca o permitimos? 

Hoje, apenas hoje, sê egoísta. Olha para ti, pensa em ti. E questiona aquilo que mais ninguém faz: serei eu feliz? É esta a vida que eu quero para mim? Tornei-me na pessoa que eu admiro? Ou que repugno? Que posso eu fazer para mudar isso? Como posso eu ser feliz? 

Não vais ter todas essas respostas hoje, desengana-te. Mas hoje é um bom dia para começar a procura-las. Procura-te, e permite-te encontrar-te. 

Não desistas de ti. Não te deixes ficar para trás. 
Porque no final, só tens a ti mesmo.
Ama-te. 
Respeita-te.
De ti, para ti.

E quando te disserem que não tens nada, lembra-te que, por vezes, o nada pode ser muito.



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