O amor é paciente.


Após cada discussão, após cada ausência tua, digo um milhão de vezes que para mim chega.
Tento convencer-me de que não quero mais saber de ti, que não me mereces,
que prefiro viver com o facto de nunca te ter do que com a ansiedade de não saber o dia em que te voltarei a ver.
Elaboro uma lista de razões para ficar, e outra para ir embora.
Ironicamente, acabo contrariando a lista vencedora.


Depois de alguns amores e desamores, torna-se cada vez mais difícil encontrar alguém capaz de nos fazer sentir genuinamente felizes.
É fácil ser uma boa companhia de Sábado à noite, ser alguém com quem se bebe uns copos e tem uma boa conversa. Mas quantas são as pessoas que se importam realmente connosco? Quantas são as pessoas que nos fazem sentir seguros? Quantas são as pessoas que nos aceitam e amam, do jeito torto que por vezes somos? Quantas são as pessoas disponíveis a amar alguém além do seu amor próprio?
Talvez por isso eu ainda esteja aqui.

Não me permito partir, porque sei que não poderia mais voltar.

Quando se segue em frente, existe muito de nós que fica para trás. Quando decidimos seguir um novo rumo, aquele lugar que abandonamos torna-se outro, ou de outra pessoa. E por maior que seja a vontade de o recuperar, não existe mais o mesmo sentimento, a mesma pessoa, a mesma intensidade.
Por isso não me permito partir, porque não consigo imaginar a minha vida sem ti, nem quero.

Será uma reflexão um pouco irónica, e sem qualquer sentido, dizer que não te abandono quando tu o fazes comigo.
Mesmo quando dizes que não o irás fazer, acabas por ir embora, uma vez, e outra, e outra. Voas para outro lugar que não me inclui, levando contigo partes de mim, enquanto eu fico a assistir, e esperando, esperando pelo dia em que sintas a minha falta. Porque apesar de tudo, ou por causa de tudo, tu sempre voltas. E é saber que voltarás que me faz ter esperança, esperança que um dia voltes para ficar.

Anseio por esse momento mais do que qualquer outra coisa na vida. 

Em uma outra dimensão paralela a esta, sei que existe um outro eu que nunca se sujeitaria a tal posição. Um outro eu que não te daria mais que uma oportunidade, que não passaria noites em claro com o eterno dilema entre o que foi, o que quase foi, e o que provavelmente nunca chegará a ser.
E eu entendo, porque esse outro eu não te conhece como eu.

É fácil julgar os outros. É fácil dizer para se abandonar as relações ou as pessoas quando algo corre mal.
É sempre mais fácil fingir que nada aconteceu, recomeçar tudo do zero, com alguém novo, alguém que não traga uma bagagem tão dolorosa. É fácil dizer que, bem, não era para ser, soma e segue. 
É mais fácil desistir do que insistir, deixar cicatrizar as feridas, e na maioria dos casos isso resulta.
Acreditem, na maioria das vezes é bem mais fácil deixar para lá. O problema, o grande problema é quando falamos de um grande amor.

Ao longo da nossa vida podemos ter mais que um amor, mais que um tipo de amor. Mas quando falamos dos amores intensos, dos amores arrebatadores, dos amores que chegam do nada e se tornam tudo, caramba, é tão difícil abdicar deles como se nada fosse.
E por isso hoje continuo aqui. Não me permito partir porque não consigo imaginar que o teu abraço, o meu refúgio, seja de outra pessoa que não eu.

Talvez se eles soubessem da nossa história entendessem. Talvez se eles soubessem da dimensão do meu sentimento por ti, eles compreendessem o porquê de não te conseguir deixar.
Mas eles não sabem. Eles não sabem o conforto que é estar nos teus braços, eles não sabem a paz que é estar do teu lado, no silêncio da noite, apenas tu e eu. Eles não sabem o turbilhão de sentimentos que eu sinto a cada beijo teu, a cada toque teu. Eles não sabem o quanto me sinto bem do teu lado.
Eles não sabem, porque eles não são eu, eles não são tu, eles não são nós.

Não é fácil amar alguém, sabes? Não é fácil sentar e ouvir os desabafos do outro, não é fácil ser um ombro amigo, um parceiro da vida. Não é fácil admirar as imperfeições no corpo e mesmo assim dizer que é perfeito, não é fácil apaixonar-se pelo sorriso, ou pelo brilho dos olhos. Não é fácil amar alguém ao ponto de contrariarmos as nossas ideologias, ao ponto de estarmos dispostos a abdicar da razão para seguir o coração. Não é fácil estarmos dispostos a crescer juntos, a errar juntos, a aprender juntos.
Ou talvez seja demasiado fácil, mas ninguém esteja disposto a fazê-lo.

Ficar sem ti, é como olhar o céu e não ver as estrelas, é chegar na fonte depois de 10km a correr e ela não ter água.
Ficar sem ti é ficar sem os sorrisos, sem as gargalhadas, sem as conversas de almofada, sem os carinhos, sem a cumplicidade.
Ficar sem ti, é ficar sem uma grande parte de mim.


Por isso aguardo por ti.
Aguardo pacientemente, tal como o nosso amor. 
Porque amar-te é o meu propósito de vida. 
E não me permito partir, não sem ti.



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