Tudo me fascina, nada me prende.



Não quero de volta relações antigas. Nem fazia qualquer sentido. 
A pessoa que eu era nessa altura não existe mais.  
Por isso alguns sentimentos só podem ser sentidos em determinados momentos. 
Se naquela altura fosse a pessoa que sou hoje, sei que não iria querer quem cheguei a querer.



Dois meses. Estou à dois meses a tentar escrever algo que seja pessoal, que seja meu, que tenha algo de mim, e só consigo ver uma folha branca. Dizem que é um bloqueio emocional. Mas, na finalidade, consegui perceber que nunca consigo falar de mim a 100%. Em toda a minha vida nunca fui realmente eu, mas sim quem as pessoas queriam, quem as situações exigiam que fosse.

Vivemos por detrás de heterónimos para agradar os outros, para sermos aceites na sociedade, e quando isso não acontece, somos julgados em praça pública.

Sim, sou uma fã incondicional de Fernando Pessoa. E, em maior parte da minha vida me senti como ele, sozinha, ainda que rodeada de imensas pessoas. Não me julguem por isso.

Quando o dia nos corre mal, quando o universo parece conspirar contra nós, podíamos sair, dançar, beber uns copos. Mas não, preferimos ficar em casa, a fazer uma retrospectiva dos últimos anos, ouvindo as músicas mais tristes e, consequentemente, a desfazer-nos em lágrimas.

Comecei por escrever coisas aleatórias. Fiz uma lista dos últimos acontecimentos, de tudo, ou quase tudo o que até hoje me fez perder noites de sono. Facilmente preenchi o imenso espaço que tinha para escrever.

Não é um cliché perceber que cada escolha que fazemos gera consigo uma consequência.
Talvez por isso se diga que as decisões devam ser devidamente ponderadas.
Mas quem pensa nisso quando se está magicamente deslumbrado?

Quase com vinte e três anos e ainda me consigo iludir, mesmo que por breves momentos, de que, bem, talvez agora seja diferente.Todas as vezes que penso nisso é apenas uma questão de tempo até perceber que estou enganada. Mais uma vez.

Com todas as desilusões e mágoas que marcaram o meu caminho, tonei-me uma pessoa mais realista, fria, dizem alguns. Quando gosto de alguém, gosto de forma intensa. Não sou de meios amores, para dar umas voltas ou ver no que dá. Mas em determinada altura já andei perdida. Quem nunca?

As pessoas adoram julgar e rotular os outros. A minha pseudo indiferença faz com que pensem que realmente não quero saber. Não ponderam as palavras ou atitudes, porque, na verdade, são eles que não se importam.
De tanto que agem como se não tivéssemos importância, chega uma altura em que realmente nos mentalizamos disso, que não somos nada, que nunca seremos nada. E acabamos por agir como tal.

Pessoas, como eu, que estão sempre sozinhas, não é porque são difíceis ou complicadas. É, simplesmente, desgastante estar constantemente a criar expectativas sobre alguém e depois essa pessoa se tornar uma desilusão. Seguimos os nossos instintos, vamos contra os nosso princípios, insistimos numa história que terminou antes de começar, damos mais uma oportunidade, para depois voltar para casa e chorar no colo dos pais.

Não importa quanto digam que és especial. 
Os pais são, e sempre serão, os únicos que estão sempre lá para ti.

Não esperamos muito, não pedimos muito.
Uma simples mensagem a dizer que se sente saudades, uma simples atitude, a procura, o interesse. Alguém que não desista de ti quando tu mesma o fazes. Alguém que te trate com todo o amor do mundo, que não tenha vergonha de ti, que esteja disposto a partilhar a sua vida contigo, alguém que venha para ficar.

As pessoas mudam, os gostos mudam, as perspectivas também. E quando isso não acontece, quando as pessoas mantém a mesma postura e atitudes, factores esses que te fizeram voltar costas, como esperar retomar a um sítio onde não se enquadra mais? 

É fácil fascinar e deixar-se ser fascinado. Assim como é fácil arranjar boa companhia num Sábado à noite. Difícil é manter o interesse, é cultivar diariamente um sentimento em que, inicialmente apostamos tanto, e de um momento para o outro, parece ter perdido todo o valor.

Tudo o que é passageiro não vira história. Tudo o que é passageiro não vira prioridade. 
E quem se sente preenchido consigo mesmo não perde tempo com quem chega com o intuito de fazer estragos e ir embora. 

Quase com vinte e três anos e não estou na lista das próximas a casar, sou das poucas solteiras no meu grupo de amigos, e, sinceramente, não estou preocupada com isso. Aprendi, com o tempo, a dar a mim mesma o valor que mais ninguém deu. Tudo o que vier será um acréscimo, da mesma forma que aquilo que for embora, ou que nunca chegou de verdade, será uma noite de sono perdida, uma desilusão a acrescentar à lista que se vai tornando cada vez mais extensa, mas não mais que isso. 

Dizem que quando o mel é bom a abelha sempre volta. É, sem dúvida, uma das minhas expressões preferidas. E, enquanto existir esse vai e vem, com a esperança de encontrar algo melhor no caminho, pelo meio das entrelinhas aparece alguém com todas as certezas do que quer, alguém que faz por merecer, alguém com paciência para juntar todas as peças que um outro alguém quebrou, e nesse dia, quando derem conta, o mel já foi tomado por outra abelha. 
E aí não há arrependimento que valha. 


Não existe falta de amor, existe falta de interesse.
Tudo me fascina, nada me prende.
        

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