E o namorado, como vai?

A última vez que me perguntaram pelo namorado, respondi que provavelmente estava a comer uma tortilha no México. 
Riram-se e a conversa ficou por ali. 
Felizmente.


Após o término de uma relação, como se não fosse já suficiente ter de lidar com os motivos que levaram ao seu fim, somos, ainda, constantemente bombardeados com as mais diversas perguntas sobre o porquê de isso ter acontecido.

Lembro-me da altura em que só se sabia que alguém estava de namoro ou casamento marcado porque se ia espalhando a notícia pelas aldeias. Mas hoje, hoje coloca-se um evento no Facebook ou fotografias com declarações de amor eterno e todos os amigos, familiares e seguidores ficam a saber da novidade. E quando termina, coloca-se, novamente, um aviso nas redes sociais. Acreditem, é tão mais fácil de evitar perguntas desnecessárias. Já para não falar que, avisar que se está de novo no mercado dos solteiros é uma forma fantástica para encontrar o próximo companheiro.

Somos tão práticos em começar relações como em termina-las. Talvez por isso sejamos a geração do facilitismo, desapego, indiferença.

Tornamos tudo tão linear que, se estás sozinho, é por três motivos: ou porque tens um problema ao continuar super apaixonado pelo teu ex, ou porque tens um problema em te interessares por pessoas que não correspondem, ou então tens um problema qualquer que afasta toda a gente. Resumindo, estar sozinho é, simplesmente, porque tens um problema.

E não é isso mesmo? Acredito vivamente que um dia irão referir-se ao nosso século como as pessoas que recorriam desesperadamente a todo o tipo de ajuda porque nos eram incutidas as ideias de que somos fracos e precisamos de quem nos ajude a resolver os nossos problemas, porque nós temos problemas, nós somos um problema. A nossa geração é problemática, aceitem isso.

Existe quem se contente com pouco, quem coaja uma relação por medo de ficar sozinho, e depois existem aqueles que todos os meses têm alguém diferente, ou por se fartarem ou por arranjarem alguém mais interessante.

As pessoas tratam-se com indiferença, como se fossem descartáveis. Limitam-se a aproveitar enquanto a conversa é boa, enquanto vivem de saídas à noite, quando se esforçam para conquistar o outro só pelo gozo de ter alguém parvamente apaixonado por si. Mas depois tudo isso passa. Deixam de se esforçar para manter o interesse, tomam uma atitude parva de "se queres fica, senão vai embora". De um dia para o outro, aquela pessoa que tratavam com tanto amor e carinho torna-se indiferente, como se a sua presença não fosse mais desejada, como se fossem aquele brinquedo que nos fez chorar baba e ranho até nos comprarem, e depois de o ter e brincar com ele duas ou três vezes ficou esquecido no sótão.


Somos marionetas nas mãos uns dos outros. 
E é preciso ser-se muito corajoso para se permitir apaixonar por alguém. 
Ou muito louco.


Para aqueles que esperam mais, que querem mais, encontrar quem corresponda não é tão linear como parece. Tomar uns copos naquele bar a um sábado à noite, comer um gelado enquanto se passeia à beira mar ou conviver duas horas por dia não é o mesmo que ter capacidade de ouvir o outro quando ele precisar de desabafar, de estar disposto a resolver as divergências que possam surgir entre si. 

Partilhar a mesma cama numa noite não é o mesmo que partilha-la durante semanas, meses, anos. Quando se inicia uma relação deve ser por querer estar com aquela pessoa o máximo de tempo que nos for permitido, por querer partilhar a nossa vida com ela. Ter o nosso melhor amigo, parceiro, companheiro, amante, tudo na mesma pessoa. Alguém que nos faça sentir seguros do seu lado, que nos faça rir depois de horas a chorar, que nos aconchegue a meio da noite, que nos transmita a maior tranquilidade do mundo apenas com um abraço. Uma relação de uma vida, e não mais uma relação passageira. 

Admiro quem não tenha medo de ser feliz, de arriscar, mas admiro mais ainda quem tem princípios, quem sabe o que quer, quem valoriza aquilo que todos os outros desvalorizam, quem dá importância aos pequenos pormenores, quem se esforça para dar sempre o melhor de si. 

Amar é fazer o outro feliz, quando duas pessoas se unem devem ter consciência disso. 
Onde há amor não há egoísmo. 
E nós vivemos num mundo de egoístas. 

Comentários

  1. "Quando se inicia uma relação deve ser por querer estar com aquela pessoa o máximo de tempo que nos for permitido, por querer partilhar a nossa vida com ela." - Eu considero que isto tem o seu fundo de verdade, porém, não tem de ser só por isso. Eu, por exemplo, imagino uma relação como a partilha total, a entrega total e a plena confiança. É fazeres a tua vida e saberes que alguém ao teu lado, ou onde for permitido, te irá acompanhar a cada passo.

    O que penso que ocorre na atualidade é o extremismo ... por um lado, o querer tudo em pouco tempo e desconstruir uma construção que nem sequer se concluiu, por outro a questão da incapacidade de entrega - cada vez mais os humanos estão mais independentes e pensam que uma relação é algo demasiado complexo e que não as deixa viver a vida - e por outro, finalmente, a questão de que o namoro só se proporciona com um 24/7 presencial, visão que discordo.

    Continua a escrever, gosto de te ler!

    "Vivemos num mundo de egoístas" - verdade... num mundo de facilitismo e de pessoas sem visão de futuro. É uma pena! Mas quem procura ter essa visão do futuro é que "tem um problema"... "não sabe viver o momento".... "não sabe viver a juventude... isto agora é pra curtir"!

    Quem nunca?

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Fui uma mulher desejada, mas nunca amada.

Eles sabem lá.

Não te percas por ninguém.