As gerações mudam, as pessoas mudam com ela, e a maneira de amar também. Infelizmente.

Não faz muito tempo estava a viver a minha adolescência. Na altura o meu telemóvel não tinha câmara fotográfica, as selfies ainda não estavam na moda, não havia Facebook, Snapchat nem nada das redes sociais que hoje usamos. Sou do tempo do Hi5 e da Netlog, coisa que 90% dos (agora) adolescentes nem sabem o que é. 
Era preciso andar às voltas da escola para ver aquele rapaz que ocupava os nossos pensamentos o tempo todo, as nossas amigas falavam com os amigos dele para dizer que estávamos completamente in love e eram assim feitos os arranjos. 
Os encontros eram feitos nos intervalos, andávamos às voltas da escola ou ficávamos num canto sossegado a conversar, rir e dar uns beijinhos.

Ah, os beijinhos. Na altura tinham tanto significado 
e hoje em dia são levados como algo tão banal!

O fim de semana era horrível. Não estávamos à distância de um telefonema ou uma sms, tínhamos de recorrer ao telemóvel das primas mais velhas para mandar uma mensagem ao namoradito a dizer que tínhamos saudades dele. E a verdade é que tínhamos. Nessa altura sabíamos o que era desesperar para os dias passarem, conhecíamos a sensação de felicidade ao ver aquela pessoa chegar perto de nós, dávamos valor aos beijos e aos abraços, as palavras não eram desperdiçadas porque sabíamos que tínhamos limite de mensagens e queríamos usa-las da melhor maneira possível. Não publicávamos nas redes sociais a nossa vida, a nossa intimidade. Não saturávamos os nossos amigos com declarações de amor- o que era feito a dois não se contava a três. E éramos tão felizes! Éramos adolescentes a viver as primeiras paixões, a tentar perceber o que causava aqueles calafrios, o friozinho na barriga. Os mais velhos diziam que naquela idade não passavam de ilusões. Mas hoje, olhando ao que me rodeia, posso afirmar que foram as ilusões mais bem vividas das nossas vidas. Porque tínhamos de conquistar, criávamos as nossas relações sobre bases sólidas e verdadeiras. 

Não era fácil estar no auge da mudança em que as espinhas tomavam conta do nosso rosto, as hormonas mudavam constantemente o nosso corpo, não sabíamos usar maquilhagem, e competir com as miúdas que nasceram abençoadas pela mãe natureza e desconheciam o significa de “feio”, puff, só quem passou por isso sabe o quanto era difícil manter a auto-estima elevada. Mas mesmo assim, havia quem reparasse em nós, na nossa essência, na nossa personalidade. Talvez por isso fosse tão genuíno. 
Até as primeiras desilusões amorosas eram mais verdadeiras. Sentíamos que era o fim do mundo, chorávamos na casa de banho da escola durante semanas, deixávamos de comer, não queríamos sair de casa. Era tão doloroso ser trocada por outra miúda só porque era mais magra ou mais popular. Até isso era realmente sentido.

E hoje? Hoje as vias de comunicação estão muito mais avançadas. Estamos virtualmente mais perto e fisicamente mais longe- que avanço fantástico. Hoje as relações duram menos que os meus banhos e acreditem, eles são bem demorados. Hoje não perdemos tempo em tentar entender as atitudes dos outros, quando começamos uma relação já vamos com a ideia de "se der deu, se não der, a fila anda". Já não vemos as desilusões amorosas como o fim do mundo porque sabemos que não o é, mas estando tão cientes da realidade, da vida "adulta", acabamos por não sentir as coisas como devíamos. Não nos permitimos amar alguém a ponto de nos sentirmos catastroficamente aterrorizados com a ideia de aquela pessoa nos deixar. Porque se isso acontecer, sabemos que mais dia menos dia vamos superar. A falta de ilusão não nos permite viver a magia que o amor deve transmitir. 
As pessoas não se conhecem mais. Vivem de likes e comentários, casam-se sem saber qual é a comida preferida do parceiro. Desculpem, mas a maioria dos namoros de hoje em dia são horríveis. E aqueles que não são, tenho uma saudável inveja.

Não é fácil encontrar alguém que esteja disposto a fazer por nós tudo aquilo que nós estamos dispostos a fazer por ele. Mas mais difícil ainda é encontrar alguém que seja capaz de estar connosco de corpo e alma. Alguém que abdique do telemóvel quando está connosco, alguém que aproveite cada segundo do nosso tempo partilhado a observar cada ruga do nosso rosto, alguém que entrelace os seus dedos nos nossos, alguém que se preocupe se estamos bem ou não, alguém que nos ouça desabafar com o propósito de nos fazer sentir mais aliviados e não por ser uma espécie de obrigação que os companheiros têm uns com os outros. Alguém que nos aconchegue à noite na cama, que torne os seus braços o nosso porto de abrigo. Alguém que elogie cada traço de celulite no nosso corpo, que nos admire, que nos ache maravilhosos bem do jeito que somos. Alguém que respire fundo no meio de uma discussão e tente resolver os problemas em vez de virar costas ou fazer birra como as crianças no supermercado quando querem doces. Alguém que não nos diga todos os dias que nos ama, mas que nos ame todos os dias. Alguém que se apaixone por nós todos os dias como se fosse a primeira vez. Alguém.

Se fosse à uns anos atrás, talvez dissesse que o homem ideal para mim seria loiro ou moreno, com olhos azuis, sei lá. Mas hoje, hoje só desejo encontrar "alguém". Sei que isso é mais difícil de conseguir do que ganhar o euro milhões sem jogar. Mas que custa desejar ser genuinamente feliz? 
As gerações mudam, as pessoas mudam com ela, e a maneira de amar também. 
Infelizmente. 

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