Deixa prevalecer o amor.

Atingi o meu ponto de loucura máxima no dia em que passei a te desejar tanto quanto alguém pode ser desejado. 

Entro no café e lá estás tu, sentado na mesa do canto, sozinho, a tomar o pequeno almoço, enquanto te atualizas das novidades do mundo virtual. Estás tão focado no telemóvel que me interrogo se darás pela minha presença como eu dou pela tua.

Como posso tentar ignorar-te se a tua essência envolve cada milímetro do meu corpo mesmo à distância? 

Observo atentamente cada detalhe teu, o teu rosto esbelto logo pela manhã, a tua barba perfeitamente aparada, o teu cabelo grisalho bagunçado como se tivesses acabado de sair da cama. Caramba, não dá para seres menos atraente? 

São imensos os diálogos entre nós que na verdade não passam de monólogos na minha cabeça, imagino uma vida a teu lado, e sei que sou louca por o fazer quando tenho a consciência de que isso não é realizável. Ou será? 

Não tenho meio século de experiências, não sou socialmente vista nem como adulta nem como responsável, nem o passei a ser no dia em que assumi o meu amor por ti. 

Amor? Que falo eu? Como posso ser apaixonada por alguém com o dobro da minha idade? Parece algo tão ridículo aos olhos daqueles que acham que devo gostar de qualquer outra pessoa, desde que seja mais nova que tu.

Quando se ama, ama-se e pronto.

Deviam ser umas duas horas da manhã quando ganhei coragem para te roubar o primeiro beijo. Não havia ninguém na rua, apenas nós dois, debaixo daquela terrível chuva que pareceu tão abençoada. Naquele momento, interroguei-me se te irias afastar, mas não o fizeste. Agarraste-me firmemente pela cintura e beijaste-me. Não foram precisas quaisquer palavras para saber que o meu sentimento por ti não poderia ser mais recíproco. 

Seria demasiado surrealista acreditar que não seríamos criticados, julgados. Se fosses rico, eu seria vista como uma interesseira e tu um tonto sortudo por ter uma mulher como eu do teu lado. Mas não, não és rico e não dá para entender, para aceitar, que a única coisa que eu queira de ti sejas tu mesmo. Sou, portanto, uma inconsequente e tu um aproveitador de uma miúda que se iludiu sabe-se lá com o quê. 

Porque não podemos ser apenas duas almas destinadas a ficar juntas, encarnadas em corpos formados em alturas diferentes? 

"E os filhos?", questionavam. Tantos casais a ter filhos com idade além do que é suposto, e foram logo transformar isso num problema. E o amor? Não será mais importante? 

Se me quiseres tanto quanto eu te quero a ti, não haverá nada mais forte que isso. Se me desejares tanto quanto eu te desejo, estarás consciente de que não será fácil lidar com as críticas, com os comentários maldosos e preconceituosos. Mas o nosso amor será mais forte que tudo isso. Seremos nós contra o mundo, nunca o mundo contra nós. 

Não assisti a muitos casamentos mas atrevo-me a dizer que estes votos seriam os mais bonitos que alguma vez algum padre seria testemunha. 

Mas nunca serão ditos, porque desististe de nós, porque te dizias demasiado cansado para lutar contra os outros. E hoje estás aqui, sentado na minha frente, sozinho. Podíamos estar juntos, mas deixaste que fosse mais que uma mesa a separar-nos. Deixaste que os outros ganhassem, deixaste que a nossa felicidade virasse nada só porque estavas cansado. 

Quando se ama, não há cansaço que supere o querer estar junto. Não há nada que supere o amor, devias saber. 

A essência do amor é maior que tudo o resto. E se assim não for, desconfio que seja amor. 

Ps: deixa de ser tonto, aceita a felicidade, mesmo que seja vinte anos mais nova que tu. 

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