Uma última dança.

 


Dizem.

Dizem que a vida é uma dança em que
alguns ficam até não aguentar mais, 
e outros esquecem da coreografia. 

Dizem que é, também, uma música
em que um deseja que não termine,
e o outro sai a meio.

Concedes-me a dança desta última música?


Procuro por ti na multidão, mas os meus olhos não te alcançam mais.

Larguei os sapatos e entreguei-me a ti, a esta noite.
Dançamos sobre o céu estrelado, enquanto sentimos a brisa do nosso próprio rodopiar.
Um pequeno jardim que se tornou o nosso infinito. 
Assim o desejei.

As luzes brilham ao nosso redor.
E, do nosso modo desajeitado, encontramos o ritmo perfeito.
O nosso ritmo. 

Desejo a cada instante que, aquela que poderia ser a nossa música, nunca termine.
Que seja uma música eterna, e que eu nunca mais tenha de calçar os sapatos.

Ouve-se o silêncio ensurdecedor. 
As luzes continuam a brilhar, mas a música parou.
Olho ao meu redor, e estou agora sozinha. 

Procuro por ti, e encontro somente o teu lenço no chão.
Sei ser teu, porque tem o teu cheiro. 
O teu inconfundível cheiro.

Dizem que a vida é uma dança, muitas vezes não finalizada.
Hoje entendo que seja, na verdade, uma música.
Uma música que, enquanto um deseja que não termine, o outro esquece de dançar.

O teu lenço enxuga as minhas lágrimas. 
Talvez não estivéssemos no mesmo ritmo. 
Talvez eu estivesse a dançar sozinha.

Eu saberia que a nossa dança não seria eterna, se tivesse reparado 
que tu não tinhas tirado os sapatos. 


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