Ficamos por amor. E pelo mesmo, vamos embora.



Dei-lhe um beijo, e pedi bem baixinho que não fosse o último. 
No momento em que me preparava para partir, ouvi a sua voz chamar por mim. 
Não olhei para trás, sabia que não o podia fazer.
Então atravessei a rua, com os olhos lacrimejantes, e coração apertado.
Eu sabia que o iria continuar a amar com a mesma intensidade.
Ainda que nunca mais voltasse àquela casa.




Falamos de recomeços como se fossem tão simples quanto cozer o botão daquela blusa que somos incapazes de deitar fora, como se tudo se resumisse a apagar as músicas que nos caracterizavam, ou deixar de frequentar os lugares que partilhávamos. Falamos de recomeços como se fosse uma fase boa das nossas vidas, como se fosse gratificante "livrarmo-nos" de algo que nos faz mal, esquecendo que outrora foi o que tão feliz nos fez. Fingimos demência, desvalorizamos tudo o que vivemos, como forma de nos proteger da dor avassaladora de saber que aquele amor não existe mais. E assim terminamos uma relação.

Talvez a pior parte dos relacionamentos não seja o seu término.
Mas sim, o recomeço do próximo.

Eu sabia, no dia em que me desloquei a tua casa, que nunca mais iria lá voltar.
Eu sabia que os nossos caminhos se iriam afastar tão rápido quanto se cruzaram. 
Eu sabia que o nosso fim tinha chegado bem antes de ter começado. 
Eu sabia.

Todos disseram que não resistiríamos à erosão do tempo, à cama fria, às brigas silenciosas.
Às vezes as pessoas são realmente complicadas, sabes? 
Deixamo-nos levar por sentimentos esporádicos, ilusórios, levianos. Mesmo sabendo que temos tudo para dar errado, vamos na fé, esperando que desta vez todos estejam errados, que desta vez, só desta vez, as coisas funcionem. 

Dizem que um puzzle não se completa com peças iguais. 
Nós, sendo o extremo um do outro, não teríamos tudo para dar certo?

Nem sempre uma relação termina por falta de amor. Desconfio que na maioria das vezes, o amor é tudo o que resta de uma relação.
Tu sabes quando a outra pessoa não está mais contigo. Tu sabes quando o abraço dela é frio, quando o sorriso é forçado e o beijo não é mais igual. Tu sabes quando alguém não te deseja mais, quando está do teu lado, mas não quer estar. 
Tu sabes quando alguém te usa por medo de estar só. 

E quando tu sabes tudo isso, tens de escolher entre ti, e o teu amor unilateral.
Estaria a enganar-me se dissesse que esqueci tudo o que vivemos, e o que deixamos por viver. 
Mentiria se dissesse que não lembro mais de ti, que não sinto a tua falta, e que não me incomoda saber que tão facilmente ocupaste o lugar que deveria ser meu. 
Mas eu sabia, também, que o farias.

No dia em que me fizeste escolher entre mim e o meu amor por ti, eu escolhi a mim.
Decidi recomeçar. 
Comigo mesma.
E essa foi a minha melhor escolha.


Ficamos por amor, pelo mesmo vamos embora.
E tu foste.
eu fui.

Comentários

  1. Olá Sofia, como estás? Também sou blogger, escritor, cantor, etc. Gostei do teu blog e como tal vou tentar dar a minha opinião:

    Quando uma mulher ama um homem de verdade, a mulher no geral retribui a dobrar, sobretudo nos dias de hoje, em que amor está de tal forma tão banalizado e ausente, ninguém tem coragem de "ficar", porque ficar custa, dá trabalho, faz com que tenhamos que olhar muito para nós mesmos, para os nossos "podres", por forma a que possamos também olhar para o parceiro e aceitarmos as suas lacunas, defeitos, devaneios, e automaticamente aceitarmos a pessoa como o ser humano que é, com qualidades e defeitos. O que acontece é que a maioria das pessoas ainda não atingiu o amor próprio, o contacto divino interior onde o "EU SOU Maior" se revela, isso requer muita meditação e muita introspecção. E como tal, as pessoas vão tendo "paixões", contactos emocionais, enquanto tudo é bonito, enquanto ambos tentam fazer um esforço para mostrar apenas um lado "bom", um lado "perfeito", mas claro, ninguém aguenta isso muito tempo, porque nós não podemos viver com uma máscara, então quando já não aguentam, as verdades vão-se revelando, os defeitos naturalmente humanos começam a sobressair, e "aquele" que ainda não possui amor próprio, começa a perder o interesse no parceiro, fica decepcionado, fica desapontado, porque pensou que a pessoa era uma determinada coisa e afinal está a começar a ser outra. Por outro lado, aquele que já atingiu amor próprio e um forte crescimento interior, quando inicia uma relação, o AMOR, por sí só já espera tudo isso, já espera que a pessoa fique impaciente, que diga coisas que não queria dizer, que tenha comportamentos por vezes erronóneos, mas se ambos os lados já tiverem atingido amor próprio e terem descoberto a sua luz e a sua verdadeira essência, estes factores não esmorecem uma relação, muito pelo contrário, complementam, tornam a relação "humana", fazem com que ambas as partes tenham que fazer esforços a nível pessoal, que dêem mais de si mesmos, proporcionando crescimento interior a ambas as partes.

    Mas claro, a nossa geração está demasiado entretida, com muitas dispressões, pouca leitura, pouca introspecção, e isso faz com que as pessoas andem a ter relações como quem usa um persevativo e quando este já não "oferece" o que a pessoa estava a receber de lindo e maravilhoso, mudam rapidamente para algo "novo", completando assim um ciclo vicioso indeterminante, mas nunca potenciando verdadeiramente uma relação. O que é perfeitamente normal, ora, se esperamos apenas "amor" do outro lado, não possuindo o nosso amor próprio, não temos luz, energia para potenciar a relação a outros níveis. As relações que funcionam são raras, o Amor não está para todos, são poucos os velhotes que andam de mão dada no parque depois de 50 anos juntos, que voam como pássaros livres, e isso será sempre assim, pelo simples facto de haverem precisamente poucas pessoas que trabalham verdadeiramente o seu interior ao longo da sua passagem nesta vida. Ao invés disso, trabalham o Ego, a aparência, o ginásio, a posição, o estatuto, o dinheiro, o a sua verdadeira essência fica para "trás", ou para nunca... Nada é por acaso, o AMOR não é sorte, não é um previlégio, é uma escolha, uma escolha de um caminho, um caminho de muito trabalho, e como ninguém gosta de ter trabalho, as pessoas optam por se consumirem umas às outras em relações que "tiram mais do que oferecem", e tiram porque aquilo que uma relação "É" no seu percurso/desfecho, é senão apenas o reflexo do contudo interior das pessoas que formaram essa mesma relação.


    Bem, podia ficar a falar sobre isto o dia todo ;). Se quiseres passa no meu blog: http://danielalbuquerque.blogspot.com ou http://facebook.com/albuquerque.boulain

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Fui uma mulher desejada, mas nunca amada.

Eles sabem lá.

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