Para ti.



São várias as folhas que rasguei ao tentar escrever-te uma carta de despedida.
Não sei se deva ser cínica e desejar-te felicidades na tua nova vida, ou ser cruel e dizer-te o quanto te odeio por me teres desprezado.



Podias ter-me avisado que ias sair da minha vida, sabes?
Mas acho que as relações são assim mesmo. Existem sentimentos que nunca sabemos quando se transformam em amor ou quando vão simplesmente acabar. E não importa o quanto aquela pessoa possa ser espectacular, quando deixa de haver interesse de uma das partes, torna-se um fardo abdicar dos sábados à noite com os amigos apenas para estar com ela. Foi isso que aconteceu connosco? Ter-me-ei tornado um fardo para ti?

Talvez por isso as paixões de verão sejam isso mesmo, paixões de verão. E no fundo, eu sabia que a tua não ia resistir à erosão do tempo, às noites frias com a cama vazia, aos silêncios da madrugada, aos dramas do dia a dia, à maldição da distância. Há amores que terminam mesmo antes de começar. São tão intensos que desejamos que durem uma vida. Mas é o facto de não durarem que os tornam tão desejáveis.

A nossa geração está programada para querer o que não tem e repugnar o que tem, até o perder.
Somos fúteis, egoístas, desapegados. Procuramos pelo nosso bem estar, procuramos alguém que satisfaça as nossas necessidades, sem nunca nos preocuparmos em retribuir o que recebemos.
E quando deixa de ser interessante, quando as conversas se tornam monótonas, ou quando percebemos que algo se está a tornar mais sério do que estamos prontos para lidar, afastamos-nos, sem aviso, sem justificação. Simplesmente fingimos demência, ignoramos as memórias, as recordações, as conversas, e muitas vezes a própria pessoa.

São poucas as relações que conheço que se mantém inabaláveis. São poucas as que, quando expostas às adversidades da vida, resistem, ficam mais fortes, sólidas, verdadeiras. São poucas, mas são invejáveis.

Crescemos a achar que desistir é para os fracos, que quando se ama alguém devemos insistir incansavelmente. E por vezes assim o fazemos. Prendemos-nos a relações fracassadas, a sentimentos tóxicos, apenas pelo medo do que os outros irão dizer. Os outros, que são apenas os outros, e por vezes deixamos que tomem posições mais importantes do que devem.

Foi preciso muito tempo de reflexão e alguns confrontos com a realidade para entender que tudo tem o seu tempo, que todos nos irão magoar, cada um do seu jeito, e que é necessário estarmos preparados para desistir na hora certa. E não, isso não é um acto de fraqueza, mas sim de coragem.

É preciso encontrar a nossa força interior, a nossa paz, para nos conseguir impor, sem medos, sem as pernas a tremer ou com um nó na garganta. É preciso estarmos bem com a nossa própria pessoa, com quem somos, com quem queremos ser. E respeitar isso. Respeitar as nossas vontades, os nossos desejos, a nossa personalidade. E isso começa por deixar para trás quem em nada nos acrescenta, libertar-nos das nossas mágoas, medos e receios. Aceitar o que a vida nos trouxer com o sabor do vento, sem muitas expectativas, sem drama. Saber dizer não na hora certa, saber dizer sim quando o acharmos correto. Aceitar o que a vida nos oferecer, e o que de igual modo nos tirar.

Porque quando alguém vai embora, já não nos pertence. Talvez nunca tenha pertencido na verdade.
E talvez esta seja a hora em que eu me despeço de ti, em que sou egoísta e escolho a minha felicidade invés do sentimento que outrora nutri por ti.

Continuo a optar por não ser cínica, e por isso não te desejo felicidades ao lado da morena de um metro e meio que escolheste para te acompanhar nesta nova jornada da tua vida. Mas também não te desejo mal. Desejo que tenhas aquilo que mereces, e quanto a isso, será decidido pelo destino.

Hoje, despeço-me de ti.
E não, não te odeio, na verdade. 

Comentários

  1. Texto interessante, carregado de detalhes e pormenores, sentimentos e desabores. Curiosidade: São exercicios de escrita ou são coisas que te saem da alma?

    É uma curiosidade que me assombra a alma: será que o que te vai na alma está tao carregado de detalhes, pormenores e expressões tal como esse texto ou o teu olhar ?



    Ass: Dutti

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Fui uma mulher desejada, mas nunca amada.

Eles sabem lá.

Não te percas por ninguém.