(Re).



Primeira lei da vida: os términos de uma relação podem ser catastróficos. 
Deixam marcas quase insuperáveis, que teimam a resistir ao tempo e nos consomem de forma avassaladora. Depende de nós reconstruir-nos, ou deixar-nos ser vencidos.

(Re)constrói-te.



Não importa o quanto investimos, não importa toda a dedicação que damos ao outro, quando os sentimentos começam a esvair-se, resta-nos apenas aceitar e seguir em frente. 
Mas isso nem sempre acontece. 

Terminar uma relação não é tão linear como mudar o estado "civil" no Facebook, não é tão fácil como apagar as fotos do Instagram, ou como guardar todos os presentes e fotografias espalhadas pela casa numa caixa que fazemos questão de esconder na última prateleira do armário. É como se fosse arrancado um pedaço de nós. São dias, meses, anos da nossa vida que parecem ter sido em vão, são os planos fracassados, a assombração do sentimento de que falhamos. 

Não importam as razões, não importam os motivos, sempre iremos sentir que podíamos ter feito mais. E por isso insistimos, insistimos porque achamos que podemos fazer melhor, insistimos porque nos custa aceitar que terminou, porque ouvimos as opiniões alheias dizerem para nos focar apenas nas boas memórias. E realmente seguimos esse conselho. Agarramos-nos de tal forma às memórias que sem nos apercebermos, estamos a viver uma vida que não existe mais. 
Enganamos-nos vezes e vezes sem conta, criamos um cenário na nossa mente de que tudo voltará a ser igual, mas sabemos que isso não é possível. 

Não dá para voltar a um sítio que não existe mais. 

Ignoramos todas as pessoas que tentam aproximar-se porque estamos demasiado focados em recuperar uma relação que já não existe, gastamos energias em amar alguém que provavelmente já não sente o mesmo, e quando nos apercebemos, a vida está a passar bem ao nosso lado, enquanto nos limitamos a viver num mundo paralelo com o ciclo vicioso que criamos - as nossas belas ilusões, e as suas consequentes desilusões. Demasiado irónico, não?

Então talvez esteja na altura de dizer um chega, basta. Basta de mentiras, basta de viver de memórias, de perder noites de sono. 
Tudo acontece com um propósito. E o certo anda de mãos dadas com o errado. 
Não podemos prever quando chegará o certo, mas podemos libertar-nos do errado, dando espaço e oportunidade àquilo que de novo surgir. 

Algumas feridas são demasiado tenebrosas. Mas, surpresa das surpresas, conseguimos sobreviver sem a parte que arrancaram de nós. Felizmente.


Às vezes tudo o que precisamos é de sentar num banco de jardim e sentir a intensidade do vento. 
Os ventos podem trazer coisas bem mais valiosas do que aquelas que levam. 


(Re)acredita.





Comentários

  1. A verdade é que as marcas ficam, não se apagam.

    Por muito que lutemos, que tentemos ludibriar o cérebro, a persistência da memória surge, teimosa, presente, por vezes destruidora.

    Mas no meio de tudo isso, prefiro enfrentar toda a dificuldade da separação, da perda, e saber que vivi, que simplesmente não sentir.

    E o vento de amanhã, será necessariamente diferente do de hoje.

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