(Des)amor.

Mentiria se dissesse que não lembro mais do sabor do teu beijo, do conforto do teu abraço, do cheiro da tua pele. Mentiria se dissesse que te esqueci, que há outro a ocupar o lugar que outrora foi teu. Mentiria, também, se dissesse que estou apaixonada por ti e que ainda te quero.
Desculpa.

Não lembro mais da ansiedade de te ver, de contar os minutos para estar contigo, do desejo de te querer beijar. Faz bastante tempo desde a última vez que disse que te amava. É tão estranho hoje pensar em voltar a proferir essas palavras.

Já não sei o que é sentir o teu amor. 

Eu devia ter percebido, quando as nossas conversas passaram a ser sobre tudo e ao mesmo tempo sobre nada, quando deixamos de rir das nossas próprias piadas, quando a nossa rotina virou monótona, quando uma camisa mal passada era motivo de discussão. Eu devia ter percebido que a nossa relação estava a acabar quando felicidade era ir para o trabalho e não para casa.

Quando foi que nos perdemos?

Mas hoje estás aqui. O telemóvel não pára de tocar, a porta está bloqueada com ramos de flores. Porquê agora? Para quê?
Eu nem gosto de flores.

Decidimos que o melhor para amenizar os estragos era deixar de forçar uma relação onde o sentimento já não existia mais, que tu disseste não existir mais.

Foste embora sem qualquer dúvida, levaste contigo todos os teus pertences, deixando apenas a escova de dentes. Numa esperança desesperada achei que aquilo era um sinal que irias voltar.
Estava certa.

Após um casamento fracassado de oito anos, com dois filhos e mais umas quantas rugas e cabelos brancos, hoje estás à porta de minha casa, a dizer que me amas e que me queres de volta. Dez anos depois de teres ido embora, de teres vivido a tua vida, resolveste voltar.

O que tu não sabes é que não dá para voltar a um lugar que não existe mais.

Não aceitas que não te queira mais, não compreendes porque já não correspondo aos teus sentimentos, porque dizes que me amas e eu digo tudo menos que te amo também. Forças o assunto na esperança que retribua as palavras, que retroceda na minha decisão e nos dê mais uma oportunidade. Mas não o faço, não o posso fazer. Sei que ainda há algum sentimento por ti, mas não é paixão, não é amor. É apenas respeito e carinho, pelo que fomos, pelo que vivemos.

No dia em que levaste o teu último saco de roupa, soubemos que era o fim, mesmo que com uma réstia de esperança, eu sabia que não havia mais nada para salvar. Mas hoje estás aqui, divorciado, com a vida de pernas para o ar, pronto a fazer o mesmo com a minha.
Mas é demasiado tarde.

Não há mais amor, não há mais paixão, não há mais nada entre nós. A minha porta para ti ficou fechada no dia em que desististe de nós por ser mais fácil começar um novo amor do que perceber o que de errado se passava, se havia algum tipo de solução para a nossa relação.

Desconheço a tua súbita tentativa de retorno, não quero nem que me expliques. Quero apenas que vás embora, como já fizeste, mas desta vez, leva a tua escova de dentes.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fui uma mulher desejada, mas nunca amada.

Eles sabem lá.

Não te percas por ninguém.